E eis que, na aula de laboratório, quando os processos catalíticos já começavam a fazer comichão, a professora constata o seguinte facto: "Um átomo sozinho nunca é feliz."Foi o suficiente para me acordar o espírito e o corpo, já meio moles. Vasculhei logo a bolsa dos lápis, negra de carvão, cheia de aparas de borracha e papéis de pastilhas, em busca de um post-it (a Méri chama-lhe pst's). Só encontrei um pedacinho de papel verde, outrora um bilhetinho semi-amoroso, onde escrevi a bem-dita frase, não fosse eu esquecer-me (sim, porque a Química é como o queijo...abusem dela e vejam se a memória não estreita).
Passei o resto da aula a imaginar átomos. Um átomo fêmea de batôn vermelho no núcleo e electrões com purpurinas e outro macho com grandes e tonificados protões, de quem vai regularmente ao ginásio. Num belo dia, átomo macho e fêmea encontram-se num qualquer sistema reaccional - é amor à primeira vista. Descobrem, desde então, que se complementam e que juntos, unidos num só corpo e alma, são mais estáveis. Pelo santo matrimónio, ou por uma ligação covalente qualquer, unem-se. E assim ficam, felizes para sempre, não é? Não. Mentira. Porque o Senhor e a Senhora Átomo são promíscuos, constantes insatisfeitos...basta encontrarem outra espécie qualquer para reagirem que nem loucos.
Nisto, decidi voltar a prestar atenção à catálise heterogénea e ao processo de Ostwald. Não sem antes concluir que o que não falta por aí são átomos. Uma cambada de átomos, digo-vos.